sexta-feira, 13 de julho de 2012

Silly season

Silly season


Estou pasmado! Mas deve ser da Silly season. Alguns dias depois de ter sido repetidamente noticiada a nova proposta salarial para os enfermeiros (salário/hora 3.96€) vejo agora que afinal o Dr. Relvas é apenas o Relvas já que o "Doutor" parece ter sido comprado a uns amigos seus da Universidade Lusófona, e custou (terá custado?) umas míseras sete ou oito mensalidades visto que essa licenciatura demorou apenas UM ano  lectivo a ser obtida. É certamente por causa da silly season! Então profissionais altamente qualificados, como é o caso dos médicos e enfermeiros, ficam nas mãos de gente com formação técnica, moral e ética tão duvidosa? É da silly season! Médicos e enfermeiros que estudaram arduamente durante dezoito ou dezanove anos, que trabalharam afincadamente para conseguir as médias altíssimas exigidas para entrar nessas faculdades, ficam depois sujeitos aos humores, quase sempre negros, destes boys que compram cursos aos 40 anos e com os quais vão depois decidir quem tem ou não mérito.
Se não fosse trágico seria anedótico. Se não fosse repetitivo seria apenas um acidente de percurso. Mas não. Já antes tivéramos um primeiro ministro cujo curso deixou as maiores dúvidas, depois tivemos outro primeiro ministro que andou na escola até aos trinta e oito anos para finalizar o seu, e agora temos um número dois do governo que, mais expedito, fez a licenciatura num único ano lectivo. E isto acontece num governo que não se cansa de falar em rigor, transparência e mão firme sobre os compadrios, a corrupção e os empregos para amigos. Nuno Crato põe as criancinhas a fazer exames da quarta classe em nome do rigor e da qualidade do ensino mas para ser ministro no governo de Nuno Crato qualquer "canudo" comprado serve muito bem.
Não sou dos que acham que para se ser ministro se tenha obrigatoriamente que ser doutorado ou licenciado ou mestre. Não, não creio que seja necessário até porque tenho, ao longo da minha vida, tropeçado em muito mestre que é burro, em muito doutor com vistas curtas e muito licenciado incapaz. Mas penso que este doutoramento supersónico vai trazer grandes prejuízos a terceiros, isto é, a todos os outros alunos da Lusófona, que trabalharam de forma séria, que fizeram todos os seus exames de forma séria e concluíram os seus curso de forma séria. Os seus cursos serão agora, por culpa deste batoteiro e do reitor amigo, menorizados. Na busca de emprego já estão em desvantagem ainda antes da selecção começar.
Este ministro acaba de prejudicar seriamente milhares de alunos e de licenciados e o seu chefe ainda acha que isto "é um não assunto". Se não fosse uma "terceiro mundisse" seria uma imundície.

domingo, 20 de maio de 2012

O "Coiso"


O "Coiso"



É sem sombra de espanto que somos novamente confrontados com mais uma pérola do ministro Álvaro "Coiso". Depois dos pastéis de nata, da "desconcertação" social, da incapacidade para aplicar os Fundos Estruturais ( só 50% foram aplicados restando 22 mil milhões de euros por aplicar e em risco de serem perdidos) vem agora "o coiso" do desemprego. Ainda há poucos dias um membro do governo referia que o desemprego lhe tirava o sono. Bom sempre ouvi dizer que o coiso tira a sono a muita gente! Porém, neste caso, o "coiso" tira o sono a mais de 15% da população portuguesa, isto é, mais de um milhão de pessoas, 35% das quais jovens cujas potencialidades estão a ser desbaratadas. E o ministro "Coiso" sem soluções, sem ideias e sem iniciativa para resolver o problema. E o caricato de tudo isto é que depois vem o primeiro ministro "Coisinho" falar de iniciativa e empreendedorismo. Talvez fosse bom o senhor primeiro ministro tomar a iniciativa de tornar empreendedor o seu ministro "Coiso". Falar de empreendedorismo quando dezenas de empresas fecham diariamente, quando os bancos recusam crédito até a empresas já fixadas no mercado e com carteiras de clientes mais ou menos estáveis, quando qualquer disputa judicial entre empresas demora pelo menos 10 anos a ser resolvida, quando os pagamentos às empresas são feitos tarde e a más horas, sendo nisto o estado o maior especialista, é no mínimo, chamar parvos aos portugueses. Quem tiver iniciativa e vontade de criar uma empresa o melhor é passar a fronteira para o outro lado e escolher qualquer país menos este. E se dúvidas houvesse quanto a isto aí estão as nossas empresas do Psi20 a provar que tenho razão. Muito se falou do Pingo Doce ter mudado a sede para a Holanda mas mal se falou das outras dezanove que já lá estavam entre elas o próprio banco do estado. Se somarmos a isto a corrupção, a promiscuidade entre os grandes grupos e membros dos sucessivos governos, o compadrio entre as famílias tradicionalmente detentoras das fortunas em Portugal e esses governos então é que nem pensar colocar aqui um euro de investimento. É deitar dinheiro à rua porque qualquer pequeno investidor será rapidamente engolido por grupos como a Jerónimo Martins e outros. Basta pensar nas pequenas mercearias de bairro, nos pequenos restaurantes ou nas pequenas oficinas que fecham diariamente para ver qual o destino que está reservado ao pequeno investidor. Os tempos de crise são bons para os grandes grupos mas péssimos para as pequenas empresas.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A chuva caía.

A chuva caía.

Depois de um dia razoavelmente quente passado em Peniche, regresso a Sintra e tudo muda.
 Ao final da tarde chegou a chuva. Persistente, abundante, enternecedora. E isso fez-me lembrar um extraordinário poema de Augusto Gil. Ele aqui fica!

A frouxa luz da tarde esmorecia.
Era de ardósia e oiro todo o poente.


A chuva caía,
Monotonamente...


O crepúsculo entrou; encheu a sala...
Ao fundo, as altas chamas do fogão
Vibravam numa palpitante escala,
Numa ansiosa e trémula ascensão
De tons de coralina e tons de opala.


Falamos sobre o amor em frases vagas,
Sem alusão directa ao nosso amor,
Como quem quer poupar a duas chagas,
tocando nelas, uma inútil dor...


Tomei-te as frias mãos por uns instantes.
Cingi-te, leve, ao coração, depois.
Mas como nós estávamos distantes!
Havia o infinito entre nós dois!


Tornara-se o silencio mais silente,
E o que o nosso falar não exprimia
Era o próprio silencio inconfidente
Que no-lo segredava e repetia
Monotonamente...


Monotonamente,
a chuva caía...


Trouxeram luz. Cavou-se mais então,
Entre o teu ser e o meu, a solidão...


Tanta e tão grande foi, que parecera
Que todo o escuro que no sala houvera
Se condensara num serrado véu
E enrolando-se a nós, nos envolveu


Num grande luto soluçado e fundo,
De encher mil vidas, comover o mundo...


Disse-te adeus. Beijei-te sorridente.
Adeus! disseste; e o teu dizer sorria.


Monotonamente,
A chuva caía...


Mas logo num acesso repentino,
Em nossos olhos irrompeu um pranto
Despedaçante, intérmino, assassino...


Pranto que, quando as fontes lacrimais
Se ficam secas de chorarem tanto,
É a alma que chora mais, e mais,


E mais, e ainda, e sempre, de tal sorte
Que fica a soluçar - até à morte..


O amor, fio de aranha quebradiço,
Um sopro o quebra e ninguém mais o reata.
Mas ai de nós! Rompeu-se, e nem por isso
A dor que ele nos deixa se desata...


Num abraço de corpos naufragados
Que nossos prantos num só pranto unia,
Quedámos sucumbidos e prostrados,
Até que já no céu luziu o dia


... Um dia pálido e deliquescente.


E a chuva caía,
Mais triste, mais fria,
Monotonamente...


Um pouco longo, talvez! Sem o rasgo de génio da Tabacaria do Fernando Pessoa, mas de qualquer modo um belo poema ao amor com a chuva como pano de fundo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012



Cada vez entendo menos este nosso país! E a culpa é seguramente minha. Vem isto a propósito de uma discussão que ouvi entre supostos especialistas. O tema era educação e ensino mas como as conversas são como as cerejas, acabou resvalando para outras áreas.
Da parte do ensino, não percebi nada. Primeiro os interlocutores defenderam, com grandes argumentos, que era preciso combater o abandono escolar, motivar os jovens para a formação, tirá-los das ruas e dar-lhe incentivos na procura de uma actividade útil a si próprios e à sociedade. Gostei! Mas, para meu espanto, passado pouco tempo já ouvia coisas deste tipo: “ o mal é que hoje todos querem ser senhores doutores”, “já ninguém quer ser trolha ou carpinteiro” ou ainda “ a culpa é dos pais que metem estas coisas na cabeça das crianças”. Ninguém se lembrou de referir que a diferença entre o salário do senhor doutor e o do trolha é um abismo mais ou menos como a Fossa das Marianas. E nem vou falar da dignidade reconhecida a cada uma dessas profissões independentemente da qualidade profissional dos seus praticantes. Um mau doutor será sempre um Senhor doutor mas um bom trolha é apenas um trolha. Assim sendo porque diabo é que os pais não hão-de crer que os filhos sejam doutores? Qual é o pai que se preza que deseja para o filho um salário de 485 euros? Naturalmente que todos desejam que os seus filhos recebam como Catrogas independentemente de serem bons ou maus Catrogas.
Quanto à educação nem vale a pena falar. A falta dela é toda culpa dos jovens! Esses só dizem palavrões, não querem trabalhar, não respeitam os mais velhos, e deviam levar uns bons tabefes que para ver se aprendiam.
 E perante isto acho que está tudo dito. São dois velhos portugueses educados no Estado Novo. Não têm culpa desta visão desfocada e por isso apraz-me dizer: - E que tal discutir educação e ensino?

sábado, 21 de abril de 2012

(Re)lembranças




Pois é meu jovem (des)governante! “Como é diferente o amor em Portugal”. Como é HOJE diferente o amor em Portugal.
Nós, os velhos, que fomos a geração que empurrou este país do burro para o automóvel; 
que passou da construção de carroças para a Autoeuropa;
que trabalhou e lutou para que os seus filhos fosse, se quisessem, doutores (embora alguns apenas o tenham sido aos 37 anos e com o favor de amigos);
que lutou numa guerra que não era sua e de onde regressou com maleitas várias, físicas ou psicológicas,
Que criou um Serviço Nacional de Saúde;
Que conseguiu escola gratuita para os filhos dos mais pobres;
Que passou do pé descalço para o fabrico de sapatos para todos;
Que reduziu a mortalidade infantil para números que são hoje imbatíveis na Europa e no mundo;
Que passou das calças com fundilhos para a roupa digna de gente;
Que passou de bandos de miúdos com fome para famílias nutridas;
Que fazendo contas na ardósia criou a riqueza que te permite ter computador, Ipad, Ipod, PSP, 2 ou 3 telemóveis, tablets e afins;
Que impôs alguma dignidade no mundo do trabalho passando da jorna para o contrato colectivo;
Que passou do dia laboral de sol a sol para as 8 horas;
Que passou do “povo que lavas no rio” para a utilização e construção massiva de electrodomésticos;
Que com os seus descontos para a segurança social te garantiu abono de família, assistência médica e descontos nos transportes enquanto estudante (e como foi longo esse caminho)
 Dizia que nós, os velhos, somos agora um estorvo.
As magras reformas, para as quais depositamos mensalmente a nossa contribuição fazendo de ti fiel depositário, são vistas como privilégios a que, duvidosamente, teremos direito;
O direito á saúde, que já nos falta, é apontado como o causador da falência do sistema. Mas não as parcerias ruinosas dos teus amigos que insistes em manter;
As retenções na fonte sobre as nossas pensões acabam de aumentar mais uns pontos percentuais. Como estão longe os tempos em que afirmavas que “os portugueses não aguantam mais aumentos de impostos”;
Pensões das quais nos espoliaste dois meses e meio dizendo que seria por dois anos” e de forma ABSOLUTAMENTE EXCEPCIONAL” mas que já, com despudor, passaste para quatro. Como vão longe os tempos em chamavas mentiroso ao teu antecessor quando ele afirmava que nos tirarias os subsídios.
As comparticipações na ajuda medicamentosa encolhem assustadoramente deixando alguns de nós à beira da cova ou à beira do dilema: Compro os medicamentos ou o pão?
Enfim, somos, cada vez mais, um empecilho.
Como estou triste por ter lutado por gente como tu.
É, para ti, uma calamidade que a esperança de vida tenha aumentado. Que bom seria se continuássemos a morrer aos 50.
Que bom seria, para os portugueses, se alguns políticos nunca tivessem nascido.



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

E foi-se o Fado



Silêncio, que se vai cantar o fado.




Ao contrário da maioria dos Portugueses, não estou muito convencido que a elevação do Fado a Património Imaterial da Humanidade seja uma coisa boa para o Fado. Pelo menos não o será para o fado autentico de raiz popular que existiu até há alguns. Como quase sempre acontece, quando uma qualquer realização popular tem sucesso, logo aparecem as elites, ou as supostas elites, a tomar conta do assunto para, alegam, a coisa não se perder. Assim será com o fado! Nos últimos anos a tendência já ia nesse sentido. Os fadistas já eram, em grande número, veterinários, doutores, membros de famílias-bem e afins. Com esta nomeação não tenho dúvida de que os Merceneiros, as Argentinas, as Hermínias e os Fernandos Maurícios deste país estão definitivamente arredados do top do fado.
Não sendo grande  fã do fado não posso deixar de lamentar o desaparecimento da autenticidade para dar lugar ao fado para turista do estilo "mastigar e deitar fora". Espero que o tempo me prove que estou errado mas tenho pouca esperança.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Geração à rasca



À rasca!




Foi com enorme satisfação que vi, no passado fim de semana, essa grande manifestação de descontentamento que percorreu a Avenida da Liberdade. Não tanto pela manifestação em si mas pelo que ela representou, enquanto movimento espontâneo de jovens que, finalmente, parecem ter acordado para a cidadania e para a democracia participativa. Durante anos vi as condições sociais dos cidadãos degradarem-se sem que estes, entre os quais me incluo, decidissem tomar medidas que abanassem as estruturas políticas implantadas nos últimos trinta e tal anos. Finalmente apareceu algum sinal de descontentamento. Mas será que esta movimentação virá a ter algum efeito na hora da tomada de decisões dos nossos governantes actuais e futuros? Duvido. Já se preparam mais medidas para um novo PEC e estas serão, naturalmente, aplicadas sobre os mais fracos, isto é, sobre os jovens, os velhos e os desempregados. A banca continuará isenta, as mais valias não serão taxadas e as grandes empresas encontrarão forma de fugir ao pagamento uma vez mais.
O principal partido da oposição também já avisou, de forma mais ou menos subjectiva, quais serão as suas grandes medidas: Reduzir a remuneração aos fins de semana, redução de salários em caso de dificuldades financeiras (está-se mesmo a ver que serão todas as empresas), uniformização do regime de recibos verdes etc. Com estas medidas, é fácil ver, vão continuar a existir os falsos recibos verdes, que vão continuar a ser retirados direitos a quem trabalha e que os salários miseráveis que as empresas portuguesas pagam aos seus trabalhadores, irão ser ainda mais miseráveis.
Por tudo isto deixo um conselho aos jovens da "Geração à Rasca";  fujam daqui enquanto é tempo,  porque senão estas sanguessugas transformar-vos-ão em "Geração ainda mais à rasca".